sábado, 3 de novembro de 2007

As 11 regras para escolha de ações

Tradução e adaptação livre de SER-

O Que é Essa Pequena Coisa Chamada Ação?

Regra n. º 1 – Quando compramos uma ação, estamos na realidade comprando um negócio público (o que não deixa de ser um negócio, é claro). Antes de definirmos as quatro dimensões da análise fundamentalista, existem algumas coisas que deveríamos conhecer primeiro. O nosso principal objetivo é avaliar uma companhia negociada publicamente. As palavras ações e negócio são sinônimos para nós. Não existe qualquer diferença na metodologia empregada para avaliação da ação de uma empresa e de toda a empresa. O nosso lema é: “investir em um negócio como se fossemos os donos”.

Não importa se estamos comprando a empresa toda ou apenas algumas ações. Raciocinar como se estivéssemos comprando o negócio todo requer o mesmo raciocínio e disciplina necessários em qualquer outro investimento. Se estivermos realmente dispostos a comprar uma empresa, devemos prestar bastante atenção ao preço oferecido, a qualidade do negócio, saber se a área em que ela atua está dentro do nosso círculo de competência e, certamente, por quanto tempo vamos querer ser donos desse empreendimento. Em suma, vamos querer saber tudo sobre o que chamamos das Quatro Dimensões da Análise Fundamentalista: avaliação, qualidade, conhecimento e tempo.

Avaliação: O Preço Pago Em Relação À Receita Gerada.

Regra nº2: Quando compramos um negócio, o preço pago deve ser proporcional ao dinheiro que esperamos que a companhia irá gerar em nosso benefício no futuro.

Regra nº3: Contexto, contexto, contexto. É muito importante entender o modelo econômico da companhia. Primeiro em relação a si própria, depois em relação a seus concorrentes e, por fim, em relação ao ambiente econômico como um todo.

Regra nº4: A avaliação é feita em cima de retornos futuros esperados.

Eu não consigo entender como alguém pode querer estabelecer um critério puramente qualitativo para compra de ações sem levar em conta o contexto do negócio. Devido ao exercício de raciocínio lógico efetuado antes da decisão de compra, a avaliação é provavelmente o parâmetro mais importante a se analisar antes de decidirmos colocar dinheiro numa empresa. Além da satisfação pessoal de possuirmos ações em diversas companhias, quando decidimos comprar ações de uma determinada empresa é porquê acreditamos que o valor em dinheiro que ela vai gerar no futuro valerá mais do que estaremos pagando por ela naquele determinado momento.

A razão da existência de qualquer negócio é a geração lucro para seus proprietários através do emprego racional dos ativos colocados à disposição da empresa. Depois que a empresa gerar o lucro, podemos decidir o que fazer com ele: reinvestir, fazer aquisições, pagar dividendos, ou recomprar porções do próprio negócio ou a parcela dos outros sócios dispostos a vender. O dinheiro futuro que você acredita que a empresa irá conseguir gerar durante todo seu período de operação, transformados sob premissas racionais em dinheiro de hoje, é o valor da empresa naquele momento. A especulação agressiva e algumas outras adversidades poderão alterar o valor presumido do fluxo de caixa da empresa. Mas, no final, o negócio vale mesmo é pela quantidade de grana que ele consegue gerar com seus ativos, sejam eles tangíveis como uma fábrica ou, intangíveis como uma marca.

Embora o método de avaliação dependa do tipo de companhia que se esteja avaliando, o resultado final é um só: quanto maior a diferença entre o valor de mercado e o valor intrínseco daquela companhia, maior será o retorno esperado da ação. Relembramos mais uma vez que, o objetivo da avaliação é identificar retornos futuros. Assim, quando superestimamos as premissas em nossas avaliações, diminuiremos proporcionalmente nossos retornos futuros esperados. Se você pagar muito por retornos futuros irá perder dinheiro ou terá que se contentar com retornos medíocres até que a avaliação volte a se tornar atrativa quando comparada com o valor intrínseco. Sob o ponto de vista racional, as ações da empresa somente poderão aumentar de valor quando a diferença entre o preço de mercado e o dinheiro que ela irá gerar no futuro for significativa. Caso não haja diferença ou, se o preço das ações estiverem realmente superestimados em relação ao lucro que será gerado pela empresa no futuro, não poderá existir um aumento sustentável de preço das ações sob premissas racionais, a não ser que você acredite que a irracionalidade do mercado irá prevalecer por um longo tempo.

No final, quanto mais você paga por uma ação, mais os seus retornos tenderão a convergir para os retornos médios do mercado, ou cair abaixo dele, se você não apenas pagou caro, mas também comprou um negócio ruim.

Qualidade: Uma Medida De Excelência

Regra n. º 5: Porcarias baratas continuam sendo porcarias.

Regra n. º 6: Excesso de retorno vem da compra de negócios de qualidade superior a preços razoáveis.

Regra n. º 7: Excesso de retorno de alto risco vem da aquisição de curto prazo de negócios de qualidade duvidosa a preços elevados.

Muito do que se publica na mídia tem a ver com a avaliação de ações. O índice P/L e as taxas de crescimento aparecem rotineiramente nas seções financeiras dos jornais. Mas, muito pouca tinta é gasta no quesito qualidade da empresa. Isto deve ser porquê “qualidade” é uma característica muito mais esotérica e nebulosa do que a avaliação. Ou, até talvez por ignorância. Na avaliação, tudo o que você precisa conhecer são números e saber usar uma calculadora. Agora, determinar a verdadeira qualidade de uma empresa vai muito além da simples matemática. Requer que você entenda o que o negócio é e como ele funciona dentro de um contexto capitalista.

Não adianta comprar um negócio somente porquê ele está barato. É importante que ele tenha qualidade. Investidores normalmente compram ações porquê acreditam que elas estão baratas em relação a seus índice P/L ou P/Vendas e acabam por descobrir que os preços estão baratos porquê os lucros estão em declínio e as vendas vem diminuindo. Embora vários estudos indiquem que você possa superar o mercado comprando uma cesta diversificada de ações fora-de-moda e com baixas avaliações (a lá Ben Grahan), os retornos gigantescos como o do Rei dos Investidores, Warren Buffet, vem mesmo da aquisição de negócios de alta qualidade a preços módicos. Se você fumar os últimos tragos de uma “bituca” de cigarro achados na rua poderá ter a sensação que a sarjeta é um excelente negócio, mas, na verdade, comprar uma caixa de cigarros “extra” por um preço moderado não será apenas melhor para sua saúde, ela criará muito mais em termos de valor para você.

A avaliação e a qualidade são complementares. Faça os cálculos pelo lado da avaliação e verifique se uma ação está super, moderadamente, ou sub-avaliada. A matemática no lado da qualidade irá mostrar o diferencial existente na austeridade da administração, no valor da marca e no domínio do mercado, indicando se o mesmo é grande, pequeno ou moderado. Depois compare os dois resultados com olho clínico, buscando a aquisição de uma companhia que possua baixa avaliação (comparada com seu valor intrínseco) e que possua de alta ou, pelo menos, moderada qualidade. Ou, se você gosta de um pouquinho mais de risco, companhias mediamente avaliadas, mas com excelente qualidade. Fuja de companhias de baixa qualidade superavaliadas.

Profundidade De Conhecimento: O Círculo Da Competência.

Regra n. º 8: Compre aquilo que você realmente entende.

Regra n.º 9: Não compre aquilo que você entende apenas superficialmente ou tudo àquilo que aparece na sua frente. Você irá, quase que certamente, perder dinheiro e conseguir um retorno abaixo do mercado.

A avaliação e a qualidade são a largura e a profundidade do mundo do investimento. Estas duas dimensões indicam, quais serão as dimensões finais do seu investimento. Assim como qualquer outra coisa na vida, nossa habilidade para empregar ferramentas corretamente tem suas limitações. De fato, nossa habilidade para avaliar ou estimar qualidade é bastante limitada, mesmo com toda a precisão e segurança que os números aparentem oferecer. Sempre restará a alternativa de mantermos uma taxa extra de “margem de segurança” em uma aquisição, por precaução, sendo conservadores em nossas premissas e avaliações, não superestimando as qualidades da empresa de maneira a não amplificarmos nossos erros. Será interessante empregar a outra dimensão do processo de investimento: A profundidade do conhecimento, que é ainda mais vital para evitarmos erros.

A profundidade de conhecimento é um conceito muito importante, sendo muitas vezes mal interpretado. É de importância fundamental saber quanto se conhece realmente sobre a empresa sob o seu ponto de vista econômico – Isto significa a maneira como ela interage com seus clientes, fornecedores, distribuidores e investidores, no seu dia-a-dia. A máxima: “Compre o que você conhece” não é suficiente – Ela deveria ser: “Compre o que você compreende”. Heráclito descreveu isto de forma melhor: “Muitos ensinamentos e poucas compreensões”. É muito raro um investidor ter a real compreensão do que uma empresa realmente faz. O mais comum é o investidor limitar-se a um conhecimento superficial de quais são os produtos da empresa e como eles poderiam ser excitantes, ou possuir uma aparente familiaridade com o produto e um suposto conhecimento do modelo econômico da companhia.

Embora o conhecimento seja importante, ele não deve ser separado do contexto da avaliação e da qualidade do negócio. O conhecimento superficial da empresa sem a real compreensão de quanto dinheiro a companhia irá gerar no futuro poderá ser um cenário de investimento tão catastrófico quanto olhar apenas para a avaliação da empresa e ignorar seu modelo econômico. É a profundidade de conhecimento combinada com a baixa avaliação e alta qualidade, que formam investimentos acima da média. Qualquer desvio dessas três dimensões resultará num grande risco de perda de dinheiro. E não acabou ainda. Se você conseguir combinar a esse modelo tridimensional de investimentos um ambiente psicológico apropriado e adicionar ainda o “conceito de tempo”, você estará equipado para a efetuar uma análise de ações muito acima da média.

Tempo: O Árbitro Máximo dos Retornos.

Regra n. º 10: Compare os retornos passados com os futuros em uma unidade de medida consistente.

Regra n. º 11: O tempo corrige muito, mas não todos os erros de avaliação.

Concentrando-se na avaliação, qualidade e profundidade de conhecimento, o investidor terá uma grande probabilidade de selecionar companhias candidatas a ter uma apreciação de valor acima da média. Além destes fatores, seu lucro dependerá de mais um: o tempo que o investidor manterá esses papéis em seu poder. A diferença entre um bom investimento e um investimento espetacular está no tempo que uma mudança de preço demora a ocorrer. O sucesso no campo do investimento depende da influência que o fator tempo exerce em determinados retornos e na capacidade estimar, com alguma precisão, que tipo de retorno deve-se conseguir de um papel com essa espera.

Vamos supor que você estudou a companhia XYZ, e fez o seu dever de casa corretamente. Depois de algum tempo, você descobre, para seu deleite, que as ações da XYZ dobraram de preço. Uma grande goleada não? Não necessariamente. Você deve tomar cuidado para manter a mesma unidade para todas as variáveis da equação. Se não vai encentrar resultados bizarros, da mesma forma que na física. Pense que todos os retornos de investimento devem possuir a mesma unidade de medida – o retorno anualizado – É importante efetuar decisões corretas sobre qual investimento foi e qual investimento será o mais atrativo. Em nosso exemplo, o retorno de 100% é espetacular quando efetuado em um ano. Se o retorno for obtido em 10 anos resultarão em módicos 7,1%, anualizados durante todo o período.

Quando discutimos retornos, além da necessidade de se empregar uma unidade consistente de medida, é importante também saber se o tempo exercerá um efeito salutar no processo de investimento. Você verá que o tempo corrige alguns erros de investimento relativos a avaliação. Mas o tempo certamente não irá corrigir as conseqüências da perda de paciência por parte do investidor. O tempo com que você permanece comprado com a ação diminui o risco de ter comprado a ação na hora errada. Isto quer dizer em português bem claro: Se você comprou uma grande companhia e pagou por ela um preço superior ao que deveria, com o passar dos anos seu erro será superado pelo crescimento dos lucros compostos conseguidos pela companhia. É por isto que focar em qualidade durante o processo de investimento é tão crítico – Se você compra qualidade o tempo é seu amigo. Se você compra uma porcaria, o tempo não ajudará em nada.

Quanto mais você concentrar-se numa visão de longo-prazo, em comprar empresas de qualidade adquiridas a um preço baixo e num ambiente que você conhece bastante, maior será a sua probabilidade de contar aos amigos que aquela ação que você comprou por alguns centavos, custa agora $60. Embora o público concentre muita atenção em ações que tiveram seus preços duplicados ou triplicados em um ano, são nas ações que sobem de 10 a 20 vezes em uma década o lugar onde se consegue riqueza. Seguindo as 11 regras descritas nesta série, acredito que os investidores facilitarão o trabalho dos deuses da fortuna, fazendo com que eles trabalharem a seu favor.

Tradução livre de SER-

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