terça-feira, 28 de outubro de 2008

Sete idéias para usar em caso de emergência

Vera Rita Ferreira
Sobe, sobe, desce, desce. Quem agüenta a montanha-russa? Quem tem nervos de aço? Será que isso existe? Sem pretensão a prescrever nenhuma fórmula mágica, até porque muitos investidores talvez já tenham enjoado de maneiras "criativas" demais de ganhar dinheiro rápido e fácil, como se fossem desprovidas de risco, inclusive. Vamos direto ao que interessa, que é o seu bolso:

1. Para não perder dinheiro no mercado financeiro, é fundamental ter clareza sobre seus objetivos e sobre o horizonte temporal de suas aplicações - onde pretende chegar com seus investimentos? quando? de que maneira? - para que essa bússola mais objetiva o ajude a se situar em momentos de turbulência; caso contrário, você pode ficar à mercê de poderosos impulsos de voracidade e passar do ponto, micando com papéis que podem perder rapidamente o valor, como agora;

2. Ter clareza sobre sua condição para esperar - você agüenta ou é do tipo mais aflito, que fica com cócega na mão para mexer nos investimentos a qualquer soluço do mercado? Se for assim, imagine o frenesi que o tsunami atual não está provocando em você! Se o "nervoso" for grande demais, você já considerou a possibilidade de pedir ajuda a técnicos gabaritados, que poderão ter maior isenção emocional para conduzir seus investimentos na tempestade?

3. Se está pensando em trocar de aplicação, verificou os detalhes que fazem a diferença? Taxa administrativa, impostos, prazos - se você está interessado em não perder e em ganhar o que for possível, é bom dar uma boa olhada em tudo isso antes de mudar por impulso...

4. Embora você já possa ter se classificado como um investidor "conservador", "moderado" ou "arrojado", é na prática que realmente tem oportunidade de saber como se comporta diante de situações de incerteza, risco e grandes pressões internas (de dentro de você) e externas (deste cabuloso cenário); além disso, lembre-se de que a tentação de correr mais riscos aumenta na proporção das perdas incorridas, mesmo sem se dar conta desta atração que pode ser fatal - independente do seu "perfil oficial", você pode topar se expor a mais risco porque se sente desconfortável com perdas sofridas. Vale a pena pensar com calma, considerando os itens 1, 2 e 3 acima, e respeitando seus próprios limites. Os limites do vizinho valem só para ele!

5. Se você já identificou alguns dos seus vieses de percepção, memória e avaliação, freqüentemente discutidos aqui, este é o momento para utilizar esse auto-conhecimento: que padrões de processamento de informação você costuma repetir? Em que condições, inclusive de estado de espírito, consegue tomar decisões mais favoráveis? Quais os fatores que atrapalham sua capacidade de analisar e escolher? O que você pode fazer a respeito deles neste momento? Sem esquecer, ainda, de checar quais são os vieses das pessoas que o assessoram, ou com quem você costuma conversar sobre investimentos. Se toda a galera tiver os mesmos vieses, aí que as análises e, conseqüentemente, as escolhas, entortam de vez...

6. Lembra-se da recomendação da vovó? Diversificar os investimentos sempre, porque se um cair, outro pode subir - você não ganhará sempre, mas ficará mais protegido de perdas avassaladoras. E não é que ela tinha razão? Agora pode ser tarde para alguns, que Já tinham colocado todos os ovos na mesma cesta. Mas além de uma potencial omelete (com um pouco de sorte), é bom escrever isso em letras de fogo no seu próprio "manual para investimentos tão seguros quanto possível" e, nas próximas vezes, resistir às tentações sedutoras: quando uma aplicação dá retorno dez vezes maior do que outras, tende-se a deixar o capital crescer ali, sem reequilibrá-lo novamente conforme o plano original;

7. Olhe também para o futuro, pois sua vida financeira não acabou aqui e, portanto, você precisará das preciosas lições que pode aprender agora, como ganhar auto-confiança verdadeira - não a excessiva (e alucinada, diríamos) que os especialistas apontam como um dos combustíveis para bolhas, por exemplo, mas sim a força real de ter atravessado solavancos difíceis como estes. Mas tem uma coisa: é preciso pensar sobre essas experiências, incluindo-se os aspectos emocionais e sua própria participação nelas, para que possam ensinar, caso contrário, repete-se os mesmos equívocos no futuro.

Vera Rita de Mello Ferreira é psicanalista, consultora, professora, doutora em Psicologia Econômica, representante no Brasil da International Association for Research in Economic Psychology e autora de "Psicologia Econômica - Estudo do Comportamento Econômico e da Tomada de Decisão."

E-mail: verarita@verarita.psc.br

Este artigo reflete as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

Veja também:

Nenhum comentário: