sábado, 7 de maio de 2011

Onde Warren Buffett investe e não investe dinheiro

Confira por que o Oráculo de Omaha desaprova a aplicação em commodities e acredita nos títulos públicos do Tesouro norte-americano

Warren Buffett: "prefiro acreditar em empresas com linhas de produção"

São Paulo - Para o bilionário Warren Buffett, a euforia com a subida do ouro não justifica a entrada do ativo no portfólio de nenhum investidor. As ações de bancos devem perder apelo nos próximos anos e a poupança em títulos públicos deve ser entendida como um colchão de liquidez.

Foi pontuando seu discurso com frases assim que um octogenário Buffett falou à cerca de 40.000 espectadores na reunião anual da Berkshire Hathaway, no último sábado de abril. Conhecido como "Woodstock dos capitalistas", o encontro reuniu milhares de acionistas da holding na pequena Omaha, Nebraska, onde nasceu e ainda vive o megainvestidor.

Confira, a seguir, os pontos altos da reunião.

Ouro não impressiona

Segundo Buffett, o resultado da coleta e fundição de todo o ouro do mundo será um cubo com quase 20,5 metros de cada lado. "Você pode pegar uma escada, subir até o topo e dizer que está sentado no alto do mundo. Você pode polir esse cubo, afagá-lo e ficar admirando-o", disse o bilionário. Mas apenas isso.

"O ouro não tem valor intrínseco. Comprar commodities como o metal é apostar que alguém chegará para pagar mais depois", sentenciou. Para o Oráculo de Omaha, a crença no ouro é em grande parte especulativa, ao contrário do investimento em empresas que têm linha de produção.

"Há de ter algo peculiar com um ativo que só vai para cima se o restante do mundo está indo para baixo", acrescentou Charlie Munger, vice-presidente da Berkshire.

Por que a derrocada do dólar não assusta

Não há como fugir do enfraquecimento do dólar, já que o poder de compra da moeda norte-americana inevitavelmente cairá com o aumento da inflação. Buffett acredita, no entanto, que esse não é um prenúncio do fim.

"Não gosto de inflação", afirmou. "Mas venho me adaptando a ela nos últimos anos". Para o megainvestidor, outras moedas ao redor do globo também vão ficar mais baratas. E como ele não tem um palpite seguro sobre a possibilidade do dólar cair ainda mais, a Berkshire não irá apostar contra a moeda norte-americana.

Petróleo não enche os olhos

Quando perguntado se deveria apostar a favor ou contra o petróleo, Buffett reiterou que pouquíssimas commodities são previsíveis a ponto dos investidores saberem qual direção os ativos irão tomar nos próximos seis meses ou um ano. “Algumas subsidiárias da Berkshire já fazem hedge com o óleo – e estamos mais do que satisfeitos com isso”, explicou.

“Preços em alta podem ser contagiosos e influenciar comportamentos. Mas preços em alta, em si, não são a melhor forma de investir para o futuro”, sustentou. “Eu realmente acho que um investidor inteligente pode ganhar mais dinheiro ao longo do tempo com ativos produtivos do que especulando com commodities.”

Papéis da dívida norte-americana são necessários

Com um caixa de 38 bilhões de reais em títulos do Tesouro americano, Buffett reconheceu que não está ganhando quase nada com a investimento, que rende a pífias taxas de juros. Mas fez ressalvas. “Essa é apenas uma vaga de estacionamento. Sabemos que vamos tirar nosso carro daí assim que precisarmos”, disse, chamando atenção para os benefícios proporcionados pela liquidez da aplicação nos papéis da dívida norte-americana. Em 2008, foi justamente esse colchão que permitiu a injeção de generosas porções de dinheiro na General Electric e no Goldman Sachs, aplicações que rendem hoje dividendos de 10% ao ano à Berkshire.

Bancos perderam o apelo

O investimento em bancos é muito menos atrativo que já foi um dia. "Uma razão importante para isso é que a alavancagem irá diminuir. Essa é provavelmente uma boa coisa para a sociedade", afirmou Buffett. "Mas pode ser ruim para bancos que usam essa possibilidade de um jeito inteligente."

Ainda assim, o bilionário elogiou as duas instituições financeiras que fazem parte da carteira da holding. "Ainda pensamos que o Wells Fargo e o U.S. Bank são operações muito boas". Desde o último dia do ano passado, a Berkshire já aumentou sua participação no Wells Fargo em 4,8%, com um total de 358.9 milhões de papéis. Em relação ao U.S. Bank, a fatia manteve-se em 3,6%.

Repasse de dividendos fica para depois

A predileção da holding por companhias que pagam bons dividendos não é surpresa para ninguém. Na carta anual endereçada aos seus acionistas, Buffett afirmou que em dez anos há uma grande chance da Berkshire ganhar mais dinheiro com os dividendos anuais da Coca-Cola que o investido na compra original destas ações. Diante da política de amealhar fortunas com o recebimento de parte dos lucros das companhias, muitos se perguntam por que o bilionário também não reparte dividendos entre seus acionistas como forma de recompensá-los.

Na reunião da Berkshire, Buffett disse que a distribuição de lucros será o sinal de que o conglomerado já não tem mais onde colocar dinheiro. Apesar de não ter afastado essa possibilidade, ele sustentou que isso não irá acontecer por ora.

"Vai chegar um tempo em que pensaremos em algo recompensador para nossos acionistas quando não pudemos mais ganhar de 15 a 20 bilhões de dólares por ano com o investimento em empresas", disse. "Quando isso acontecer nossa ação deverá cair, já que essa é uma admissão que o crescimento terá estagnado.”

Enquanto isso, recomendou Buffett, quem quiser incrementar o caixa deve simplesmente vender algumas de suas ações ao invés de esperar por uma política consistente de distribuição de dividendos por parte da Berkshire.

Sobre filantropia e crianças ricas

Conhecido pelas generosas doações à Fundação Bill e Melinda Gates e por encabeçar a lista dos ricaços dispostos a se desfazer de parte dos bilhões em vida, Warren Buffett sempre defendeu publicamente que os filhos de pessoas muito ricas não deveriam ter acesso irrestrito ao dinheiro.

No encontro anual da Berkeshire, ele bateu na tecla mais uma vez. Segundo Buffett, ser criado com tanta riqueza pode roubar os estímulos de uma criança. E se o rebento se torna improdutivo, a culpa deve recair sobre os pais. “Caso suas crianças crescerem ricas e sem nenhum incentivo, eu não acho que você deveria apontar o dedo para elas, mas para si mesmo.”

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