Augusto G. M. Sathler
Esse artigo é dedicado, principalmente, aos investidores recém chegados ao mercado de
ações. Isso porque os mais antigos, certamente já passaram por experiências desagradáveis movidas pela ânsia de ganhar muito dinheiro, em curto espaço de tempo. E continuam no mercado porque conseguiram domar esses impulsos. Os que não conseguem jamais, são expulsos do mercado. Alguns um pouco mais rápido que outros, seja dilapidando seu patrimônio até o fim, seja desistindo - sabiamente - após perdas dolorosas.
É muito comum encontrar em livros de autores consagrados, trechos como: "...no começo,quando ainda perdia dinheiro no mercado de ações, agia dessa e daquele forma equivocadas...".
Por que isso acontece com tanta gente, inclusive grandes nomes do mercado financeiro?
Inexperiência? Sim, a inexperiência em qualquer área nos leva a cometer erros. Mas esse não é o principal problema. Os principais problemas são a pressa e a ganância dos investidores iniciantes.
Abaixo uma lista de erros comuns cometidos devido a esses fatores.
Erro nº 1: o momento de entrada no mercado de ações
A econômia e o mercado financeiro vivem ciclos de expansão e contração. Muitos investidores entram no mercado de ações no final, ou próximo, dos ciclos expansivos (237.000 novos investidores em 2007, mais que o dobro de 2006), após ouvir dizer que se ganhou muito dinheiro com ações nos últimos anos. Entram apressados, para recuperar o tempo perdido, muitas vezes alavancados ou com mais recursos do que seu perfil de investidor permita. Cuidado! Quando aparece no "Jornal das 8", que as ações estão subindo muito, é porque a festa está chegando ao fim. Pelo menos foi assim em 1997 (ciclo negativo que durou 5 anos) e 2007. E os sustos que começaram em 2007 ainda não chegaram ao fim.
Erro nº 2: pressa na escolha e compra das ações
Após decidir investir em ações, o investidor retira seu capital de um investimento de renda fixa e transfere para uma corretora. Começa a ler estudos sobre as empresas e acompanhar o preço das cotações. Os primeiros contatos com um painel de cotações são interessantes. Ações subindo 1, 2, 5, até 10% em um único dia! Dá pra se sentir um idiota, por ficar tanto tempo investindo em renda fixa, a menos de 1% ao mês. Pra piorar, no momento você não está ganhando nem 1% ao mês. Seu dinheiro está parado na conta corrente, perdendo a renda fixa e todas as oportunidades de ganhos diários com ações! É preciso comprar alguma ação rápido, certo?
Errado! Ações sobem - E CAEM - 1, 2, 5% todo dia.
As ações devem ser escolhidas com calma, entre empresas sólidas, de boa governança corporativa, que você conheça profundamente e com base em uma estratégia bem definida.
Erro nº 3: Day trading
O day trade é o nome dado para uma operação de compra e venda de ações em um único dia. Parece fascinante! Se todo dia tem ações no mercado que sobem 2, 3%, basta você comprar algumas delas no início do dia, esperar subir pouco mais de 1% e vender, gerando ganhos de mais de 30% ao mês! Grande parte dos investidores iniciantes se interessam por esse tipo de operação.
Acontece que o mercado é mais rápido e dinâmico do que podemos acompanhar e, segundo estatísticas americanas, somente 16% dos profissionais de day-trading conseguiram ganhar algumdinheiro no longo prazo. Mesmo conseguindo estar entre os 16% de sucesso, a qualidade de vida de operadores de day-trading é péssima, grudada 24 horas por dia em painéis de cotações no computador. Se você gosta de almoçar, fique fora dessa!
Erro nº 4: falta de liquidez para compra de oportunidades
Mais um erro comum, por se acreditar que dinheiro parado na conta corrente é prejuízo.
Oportunidades surgem na bolsa todos os dias. Uma notícia de compra, ou fusão de empresas.
Privatizações, quedas exageradas e injustificadas de algumas ações, são vários os motivos. E se você alocar 100% do seu capital para investimento em ações de uma só vez, não poderá desfrutar dessas oportunidades, muitas vezes de curto prazo.
Defina quanto do capital deve ficar disponível, mas tenha sempre liquidez para operar oportunidades.
Erro nº 5: limitar os ganhos e maximizar as perdas
Os estudos sobre a psicologia do dinheiro, mostram que o ser humano tem uma tendência a realizar lucros rápido demais em casos de alta das ações e assumir perdas profundas e duradouras nos casos de queda nos preços das ações. A melhor forma de lidar com este comportamento nocivo é:
- Estabelecer os objetivos de ganhos, conhecendo o potencial de preço-alvo das ações em um determinado período. Dessa forma é possível se aproveitar pelo maior tempo possível de uma tendência de alta.
- Estabelecer um limite de perdas aceitável pros casos de quedas dos preços das ações, seja por problemas com a empresa, setor ou por reversão do mercado como um todo. Dessa forma é possível limitar as perdas em caso de quedas acentuadas nos preços das ações, provocando prejuízos, muitas vezes, nunca mais reversíveis.
Agindo com disciplina, é possível maximizar os ganhos e limitar as perdas.
Erro nº 6: o céu é o limite
Diferentemente daqueles que realizam lucros cedo demais, existem alguns investidores que não realizam nunca. As ações de terminada empresa não param de subir! Os objetivos de ganhos estabelecidos foram atingidos, mas o mercado está em alta, as notícias são favoráveis. Vai subir mais!
Até que há uma reversão de humor do mercado os os preços das ações caem, muitas vezes rapidamente. Todo aquele ganho - até então virtual - some rapidamente.
Pra piorar, pessoas com esse tipo de comportamento também não são disciplinados para assumir perdas, tendo que lidar frequentemente com algumas bem onerosas.
Todos os erros acima foram cometidos e relatados por investidores que passaram por essas experiências. Inclusive o próprio autor deste artigo. Os menos apressados e gananciosos aprenderam com elas e hoje conseguem obter resultados positivos no mercado de ações, principalmente a longo prazo.
Você pode obter desempenho ainda melhor se conseguir aprender na teoria, o que a maioria dos investidores aprendem na prática.
Augusto G. M. Sathler faz parte da Equipe do site Primeiro Milhão. É formado em marketing e pós-graduado em mercado de capitais. Investe em fundos de ações desde 1998 e administra a própria carteira de ações desde 2006.
Fonte: Meu Primeiro Milhão
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