quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Por que o mercado de ações vale a pena no longo prazo

Alcides Leite Júnior
Em seu livro, "A Era da Turbulência" (Campus/Elsvier), o ex-presidente do banco central americano Alan Greenspan afirma que a aversão ao risco, comum aos seres humanos, não mudou ao longo dos tempos, mas, sim, a facilidade de acesso às informações, que permite ao investidor maior conhecimento das opções. Dada a evolução do ambiente institucional e corporativo, o investidor, mesmo sem ferir o seu perfil, consegue ampliar seu leque de opções.

No Brasil, o aplicador corrente sempre se manteve longe da bolsa de valores. A alta remuneração e o baixo risco dos investimentos em fundos de renda fixa, aliados à falta de confiança no ambiente institucional e ao desconhecimento sobre o funcionamento do mercado mobiliário, desestimulavam investimentos em renda variável, ainda que estes apresentassem casos de melhor relação risco-retorno.

A redução das taxas de juros, a melhoria do gerenciamento das empresas e da Bovespa e o esforço regulatório da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) permitiram aproximar o mercado mobiliário da população. As recentes aberturas de capital da Bovespa e da BM&F podem ser consideradas como marcos na história das bolsas de valores no Brasil. Esses eventos, que atraíram mais de 300 mil investidores, indicam que a aplicação em ações começou a se popularizar.

Os altos rendimentos das aplicações em ações nos últimos anos também estimulou bastante o apetite do investidor comum. Desde o início do primeiro governo Lula até hoje, o rendimento real (já descontada a inflação) da Bolsa de Valores de São Paulo, medido pela variação do Índice Bovespa, foi de 315%, enquanto o rendimento dos títulos do governo federal, medidos pela remuneração da taxa Selic, foi de 64%. Em termos nominais (sem descontar a inflação) os rendimentos foram de 452% e 119%, respectivamente. Um investidor que aplicou R$ 100 em renda-fixa em 1º de janeiro de 2003, teria hoje R$ 219, e aquele que aplicou no índice Bovespa teria hoje R$ 552, uma diferença de R$ 333. Se a comparação for entre investimento em ações e investimento em caderneta de poupança, a diferença será ainda maior. A caderneta de poupança rendeu, em termos nominais, 78% no período.

A crise no mercado de crédito nos Estados Unidos, com suas conseqüências ao redor do mundo, poderá afetar o desempenho da Bovespa nos próximos anos. Os excelentes resultados do rendimento das ações no Brasil, nos últimos cinco anos, podem não se repetir no curto e médio prazo. No entanto, a solidez das empresas brasileiras e os bons fundamentos macroeconômicos do país tornam o Brasil menos vulnerável à crise americana. As empresas nacionais estão capitalizadas e em pleno processo de internacionalização. Nossas exportações devem continuar vigorosas por conta da diversificação das vendas e da valorização das commodities minerais e agrícolas. Mesmo sem a CPMF, as contas públicas deverão melhorar e as reservas do Banco Central em moedas estrangeiras já se aproximam dos US$ 200 bilhões.

Tudo indica que o mercado mobiliário brasileiro tem tudo para crescer na próxima década, em ritmo superior ao do avanço do PIB . O processo de concentração das operações em bolsa de valores de empresas da América Latina na Bovespa parece irreversível. A Bovespa tende a ser a bolsa de valores da América Latina.

As perspectivas, portanto, recomendam os investimentos em ações, mas sempre como uma opção de longo prazo (cinco anos ou mais). No curto prazo, esses investimentos continuam apresentando alta volatilidade. É necessário, porém, que o investidor não se deixe abalar pelo sobe-e-desce das cotações. Quem investe em bolsa de valores deve escolher papéis de empresas sólidas e deixar o tempo passar. No final, os fundamentos econômicos e financeiros das empresas, do mercado e do país sempre acabam prevalecendo.

Também é sempre bom lembrar a velha máxima: não se devem colocar todos os ovos no mesmo cesto. A diversificação continua sendo uma estratégia válida. Aplicar uma parte em renda fixa e outra em renda variável reduz os riscos e não afeta, de forma significativa, os rendimentos.

Esperamos que o ano de 2008 possa representar para o Brasil um importante passo para o crescimento sustentado do mercado mobiliário e para a consolidação desta alternativa de investimento para a população brasileira. O fortalecimento do mercado mobiliário é uma das condições necessárias para o desenvolvimento de uma nação. Os principais países desenvolvidos passaram por esse processo e o Brasil, que almeja o desenvolvimento, precisa trilhar o mesmo caminho.

Alcides Domingues Leite Júnior é professor de Mercado Financeiro da Trevisan Escola de Negócios.

E-mail: alcides.leite@trevisan.edu.br


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